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sábado, 31 de outubro de 2015


O Acordo


O bar estava quase a fechar, as luzes da pista estavam apagadas, as cadeiras arrumadas em cima das mesas e o chão estava limpo. Já não se encontrava ninguém na sala, exceptuando um homem que se encontrava ao balcão e o empregado, todos os outros funcionários já tinham saído. Debruçado sobre o balcão, já bastante embriagado, o homem engoliu de uma só vez a dose de whisky, o empregado que 
estava ao balcão tamborilava impacientemente os dedos, esperando que este se fosse embora. 

- Amigo! Mais outro! - pediu o homem embriagado 
- Por amor de Deus, você já bebeu o suficiente para uma semana. Vá para casa e tente dormir. 
- Tenha piedade. Só mais outro e depois vou-me embora. 
- Isso é o que tem dito na última hora - replicou o empregado servindo outra dose. 
- Eu matei-a - sorveu grande gole e prosseguiu - Ela apareceu no meio da estrada, vinda do nada... Eu matei-a, pobrezinha... 
- Podia ir vê-la ao hospital, assim já podia ir para casa e dormir em paz. 
- Não. Ela vai morrer... Eu matei-a... 

O empregado preparava-se para servir outra dose quando a porta de entrada se abriu, vinda da noite, entrou por ela uma mulher. Ambos os homens pensaram ter visto um vulto vermelho, uma labareda que irrompera pela sala. Observaram extasiados a mulher que se aproximava, vestida de vermelho, caminhando elegantemente sobre os saltos altos. 

- Quero o mesmo que este senhor está a beber - pediu inclinando-se sobre o balcão, deixando entrever pelo decote a lingerie negra condizente com as meias, com a cor do verniz das unhas e das sombras dos olhos. 

O empregado ainda em transe, serviu o whisky deixando o copo transbordar, parou apenas ao sentir a mão molhada. A mulher vestida de vermelho ergueu o copo, atirou a cabeça para trás fazendo voar os cabelos, às madeixas vermelhas e louras, e bebeu o líquido de uma só vez, quando terminou passou a língua sobre os lábios com baton vermelho. 

- Não pude deixar de escutar a vossa conversa - começou por dizer a mulher na sua voz roufenha - Tenho algo que talvez possa ajudar a sua amiguinha que está no hospital. 
- Ninguém a pode ajudar - replicou o homem embriagado - Ela está morta. Eu... 
- Se você proceder como eu mandar podemos salvá-la - interveio a mulher que acariciava, com as pontas das unhas negras, uma pequena e macia bolsa de couro que trazia pendurada ao pescoço, pousada sobre o vale formado pelos seios generosos. 
- Não acredito - disse o embriagado, sem convicção. 
- Eu posso ajudá-lo - afirmou a mulher, gentilmente, aproximando seu rosto ao do homem embriagado - Deixe-me ajudá-lo, a si e à miúda... 
- Está bem - acedeu indiferente e depois levantou-se cambaleando quase caindo se não fosse a mulher de vermelho ampará-lo. 
A mulher colocou o braço do embriagado em volta do pescoço, e o seu braço nas costas dele, ajudando-o a caminhar. Já perto da porta de saída voltou-se para o balcão e proferiu algumas palavras ao empregado do balcão. 
- Mais tarde trarei notícias do seu amigo, não se afaste daqui - dizendo isto, lançou-lhe um olhar sensual, convidativo e elucidante. 

Enquanto o estranho par, ela uma mulher sensual e ele um bêbado mal apresentado, saía pela porta principal, o empregado sorria de satisfação ao pensar: Ela trata do tipo e depois vem cá tratar de mim, vai ser uma festa inesquecível. 

No hospital, no quarto onde estava internada a pequena que fora atropelada pelo homem embriagado, embora na altura estivesse sóbrio, a provocante mulher de vermelho deitava uns pós sobre a esta, enquanto fazia umas rezas. O braço da internada ostentava uma pulseira, decorada com estranhos caracteres e diagramas, que a mulher retirara antes do seu próprio pulso. A pulseira deveria agir em 
conjunto com os pós e as rezas, pensava o pobre homem, uma curandeira vinha mesma a calhar, estas normalmente têm poderes subjacentes de natureza paranormal que as ajudam a resolver problemas que a ciência não consegue. 

Ao fim de algumas horas, a pequena mexeu-se e pouco depois abriu os olhos e procurou saber onde se encontrava. O homem embriago segurou a mão da criança e de seguida caiu desfeito em lágrimas, aos pés da mulher de vermelho. 

No bar o empregado de balcão, sentado numa das poltronas, com a mulher provocante ao colo, perguntava: 

- Como está a menina? Melhorou? 
- Sim, ela está perfeitamente bem - respondeu ela na sua voz arrastada - Saiu de coma e vai recuperar rapidamente. 
- E o meu amigo, ainda tem salvação? 
- Ele é um fraco, não tem qualquer salvação. São as fraquezas que os condenam. 
- Ah! Sim! - dizia o empregado do bar, distraidamente, enquanto olhava para os seios palpitantes mesmo em frente ao seu rosto. 
A mulher abriu delicadamente a camisa dele, acariciou o peito dele e reteve a mão na zona do tórax onde fica alojado o coração. 
- Tu, também és fraco, não tens salvação. Podias ter ido para casa, para junto da tua mulher e dos teus filhos. Não soubeste resistir à tentação da carne. As mulheres são a tua fraqueza 

O sorriso do empregado desapareceu, enquanto os seus olhos iam ficando exorbitados, à medida que toda a energia e vitalidade da sua alma eram drenadas. 

Abriu a boca, mas o grito morreu-lhe na garganta. O corpo da mulher ergueu-se no ar, transformou-se numa labareda e desapareceu enfiando-se no chão, deixando para trás um corpo sem vida. 

Há muita gente cheia de fraquezas, esta noite em particular eu sei de alguém que não vai conseguir dormir, vai tentar esconder a cabeça por baixo dos lençóis, deixar as luzes acesas e tomar alguns comprimidos. Não importa, eu estarei lá para cumprir o seu destino, expirar os seus medos. 

Realização: Carlos Pires
Data: 5-12-1996
Classificação: * * *

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