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terça-feira, 30 de junho de 2015

FAZENDA SOLEDADE

FAZENDA SOLEDADE

LIALA


         Meados de 1945;

Lídia, moça da cidade, terminava seu curso ginasial e iria cursar o Magistério, queria ser professora primária, sua paixão desde pequena, ensinar crianças a ler e escrever. Quando menina, no quintal de sua casa montava uma escolinha com caixotes, cadeirinhas, banquinhos e uma lousa. Porém não abria mão de uma condição; ser sempre ela a professora. As amiguinhas do bairro gostavam dessa brincadeira, passavam horas e horas desenhando, fazendo continhas e rabiscando a lousa com gizes coloridos que o pai de Lídia, Sr. Mário, não deixava faltar.

De longe, olhava a filha naquele mister tão digno e gratificante. Sorria e se sentia orgulhoso de ver como a garota tinha jeito e se fazia obedecer.

A filha mais nova, Luíza, era tão diferente, não sabia o que queria ser, então se colocava sempre como aluna.

Frequentando a escola com afinco, Lídia fez o Curso Normal e conseguiu seu diploma de Professora. Naquela época era um orgulho ter um diploma de professora, se distinguia das demais profissões. Agora teria de procurar emprego e aplicar tudo o que havia aprendido. Informou-se e inscreveu-se nos diversos Institutos de Ensino, particulares e do Estado, até que um dia foi solicitada pelo Estado a escolher um lugar para lecionar. Que decepção, as vagas encontravam-se todas distantes, em cidades do interior de São Paulo; Fazendas, Sítios ou lugarejos longínquos, que ela nunca tinha ouvido falar. O prazo era curto e tinha que resolver antes de perder a vaga. Aconselhou-se com os pais e decidiu escolher uma Fazenda do interior, há 300 quilômetros da Capital. Fazenda Soledade, de propriedade dos “Camargo”, terras imensas, alqueires e alqueires de café, algodão e cereais. Ali com certeza teria muitos alunos a se dedicar. Com este pensamento começou a se animar.

Foi com os pais, Sr. Mário e Dona Anita até a Fazenda para os primeiros acertamentos, e lá se sentiram muito a vontade com o Sr. Luiz e dona Rosa Camargo, família distinta e bem educada, além de achar o lugar aprazível e confortável. Foram conhecer uma parte da Fazenda, percorreram de carro muitos quilômetros, quase até a divisa onde o Sr. Camargo com aquele ar bonachão que lhe era peculiar se orgulhava de possuir uma propriedade de alto valor e grande produção.

A família Camargo era composta de pai, mãe, e três filhos homens.

Ficou acertado que Lídia ocuparia uma pequena dependência, quarto, sala e banho ao lado da casa grande, e tomaria as refeições junto à família.

Os alunos seriam uma média de trinta, quase todos os filhos de peões que ali residiam e mais alguns vindos de sítios da redondeza. Receberia seu salário mensal, livre de qualquer despeza. Estavam todos de acordo e satisfeitos quando se despediram. Na viagem de volta Lídia e seus pais comentavam a ótima impressão que tiveram da Fazenda Soledade.

O fim do ano se aproximava e Ano-Novo traria Lídia o tão desejado emprego e uma certa independência, pois já estava com 23 anos. Janeiro chegou ao fim e logo começariam as aulas. Começou preparar suas roupas e objetos pessoais que deveria levar consigo. Separou muito material didático, vários livros de autores nacionais e estrangeiros e por fim, não podia esquecer seu pequeno rádio portátil que, sem dúvida, lhe faria muita companhia.

Chegou o dia da partida, os conselhos não faltaram todo o tempo no caminho de sua casa até o ônibus que a levaria ao seu destino. Chegando à cidade próxima à fazenda, tomou um táxi e seguiu para a casa dos Camargo, onde foi recebida com cordialidade pelo casal. Acompanhada em suas acomodações, tratou logo de ajeitar suas roupas e seu material nos devidos lugares.

O quarto estava em ordem, uma cama confortável, um pequeno guarda-roupa, penteadeira com espelho e uma mesa com cadeira, muito úteis para seus deveres de professora. Sobre um criado-mudo próximo à cama o tic-tac compassado de um despertador, junto a uma jarrinha e copo para água.

No jantar iria conhecer o resto da família o que a deixava um tanto receiosa. Quando a empregada Zefa foi chamá-la para cear já encontrou todos ao redor da mesa que a aguardavam. Logo lhe foram apresentados, Alfredo 25 anos, agrônomo, Carlos 22 começava o Curso de Direito e Júlio, o caçula, terminava o Colegial. Todos se levantaram e a cumprimentaram educadamente o que a fez corar até a raiz dos cabelos. 

O jantar foi servido. Conversam sobre diversos assuntos e o clima ia se tornando familiar. Lídia se alimentou pouco, discreta como sempre, só desejava mesmo se recolher, estava cansada com tantas emoções.

Adormeceu profundamente até o amanhecer quando o sol com seus raios brilhantes entrando pela veneziana, iluminaram o seu despertar após um rápido banho, sentiu-se renovada. Os longos cabelos louros ainda úmidos e perfumados lhe emprestavam um frescor suave e jovial.

Dona Rosa a recebeu para o café da manhã com um largo sorriso e muita simpatia. A mesa estava servida com uma variedade de nutrientes como bolo, queijo, geléia e outras guloseimas. Lídia estava com apetite e se alimentou bem.

Terminada a refeição, Dona Rosa prontificou-se a acompanhá-la até a escola, local que distava da casa grande pouco menos de um quilometro. A manhã estava linda e o perfume das flores pairava suavemente no ar.

A sala de aula era ampla, com duas grandes janelas que davam para o pátio e este, para o cafezal. As carteiras seminovas eram confortáveis, uma grande lousa e a mesa da mestra completava seu lugar de trabalho. Lídia gostou do que viu e expressou seu agradecimento com sorrisos e elogios.

Junto à escola numa pequena praça, a Igreja local, assistida pelo padre Bento, muito querido pela comunidade.

Passou-se uma semana e as aulas começaram e com elas o confronto direto com os alunos que freqüentariam as aulas das 08h00min às 12h00min horas. Tudo se encaminhava conforme seu desejo.

À noite quando se recolhia, sentia saudades da família, mas suas tarefas eram tantas que conseguia vencer plenamente essa situação. Uma vez por mês escrevia aos seus referindo-lhes toda sua vida na fazenda. As respostas não se faziam esperar e assim o tempo ia passando.
        
Num fim de semana, quando se preparava para o jantar, ouviu vozes e sorrisos na casa grande. Lá chegando viu que se tratava da noiva de Alfredo que residia na cidade com seus pais; Vânia era rica, linda, Miss Primavera local, estudara em Londres, era um tanto sofisticada no falar e no vestir. Foram apresentadas, dialogaram pouco e logo mais o casal se despediu e saíram.

No dia seguinte, Dona Rosa quis logo contar a Lídia do seu mau relacionamento com a futura nora. Achava que o casal se gostava, mas não compartilhavam dos mesmos ideais. Vânia só queria freqüentar altas rodas da cidade, se relacionar somente com a elite. Alfredo também era culto e inteligente, mas preferia a vida calma da fazenda onde já administrava como futuro proprietário. Herdara do avô e do pai a paixão pelo campo, pelos cavalos e tudo mais que o circundava.

Uma vez casado, pretendia fixar residência na Fazenda Soledade, e este era um dos motivos da desavença entre o casal. Alfredo pretendia convencer a noiva até o dia do casamento.

Em alguns comentários com Alfredo a respeito de Lídia, Vânia usou um ar de superioridade para dizer que a professora era um tanto caipira por ter vindo de uma cidade grande. A conversa terminou por aí.

As aulas continuavam proveitosas para aqueles garotos que a respeitavam assim como todos da fazenda a admiravam cada dia mais.

Quase todas as tardes Lídia dava um passeio por entre os cafezais, apreciando a paisagem e aquele sol dourado que ia sumindo aos poucos. Cumprimentava cordialmente a todos que encontrava pelo caminho. Um belo dia, defrontou-se com Alfredo que vindo ao seu encontro lhe sorriu um tanto surpreso. Dialogaram sobre diversos assuntos, inclusive sobre suas vidas particulares. Ele queria saber se ela havia se acostumado na fazenda ou sentia falta da cidade. Perguntou também se deixara um namorado à sua espera e como a resposta foi negativa ele também abriu seu coração contando sobre os freqüentes atritos com Vânia que tinha um gênio forte e jamais residiria na fazenda.
Num breve “TCHAU” cada um seguiu seu caminho. Era a primeira vez que conversavam a sós e ao se falarem francamente uma certa cumplicidade os unia. Parecia que uma grande barreira havia se dissipado e entre eles se estabelecera um laço de amizade.

À noite em seus aposentos, aquele diálogo povoava seus pensamentos ininterruptamente, foi tomada de um leve tremor como uma espécie de pressentimento.

Preparou-se para o jantar, saiu do banho, vestiu-se, borrifou no colo umas gotas de lavanda e se encaminhou para o jantar.

Ao se deparar com Alfredo, os olhares se cruzaram e uma grande simpatia se apoderou dos dois. Ficou confusa, conversaram até a hora de se retirar.

As festas Juninas se aproximavam e todos se movimentavam para organizar na praça da Matriz uma grande quermesse com barracas de doces, salgados, pesca-pesca e demais diversões. Escolhiam-se jovens para dançar a quadrilha com suas roupas e músicas tradicionais. Após essa grande festa todos gozariam das férias de Julho.

Alfredo esperava Vânia para os festejos, mas na última hora recebeu um recado de que ela não viria, um compromisso a impedia de comparecer. Desculpava-se, mas Alfredo sabia que ela era difícil de misturar com aquela gente simples e humilde do campo.

As luzes iluminavam aquelas barracas animadas pelos jovens e crianças ao som de músicas populares e melodiosas, era tudo uma grande alegria.

Acabrunhado, Alfredo percorria a praça quando ao longe avistou Lídia, elegantemente vestida, cabelos soltos, uma leve maquilagem naquele rosto de ar meigo e doce, chamou a sua atenção. Ficou na espreita, admirando seus gestos e seu comunicar com as pessoas. Estava linda, deliciosa. Teve ímpetos de ir ao seu encontro, tocar-lhe as mãos, mas não o fez. Não tinha esse direito.

Quando as festas terminaram, que foi um grande sucesso, Lídia viajou para a casa paterna, muito feliz por rever seus queridos e poder contar todas as novidades de seu dia a dia.

As férias terminaram e Lídia voltou para a fazenda que já considerava seu segundo lar. Após os cumprimentos, encaminhou-se ao seu aposento, iria descansar. Ao abrir a porta notou logo sobre a mesa um lindo ramo de orquídeas e junto a ele um pequeno cartão. Aproximou-se e leu “seja benvida”. A letra era de Alfredo, seu coração bateu descompassado, mas logo a razão se fez valer e começou a ajeitar sua bagagem e seus pertences.

A noite estava frio, um vento gélido agitava as folhas das árvores, agasalhou-se e foi ao encontro da família Camargo. Cumprimentou a todos e reparou o olhar de Alfredo fixo nela, como querendo adivinhar seu pensamento ou perguntar-lhe algo, mas nada mais aconteceu.

As aulas começaram e no primeiro dia os alunos chegaram à maioria trazendo flores, muitas flores para a professorinha que carinhosamente agradeceu.

A vida na fazenda transcorria normalmente até que um belo dia ao dar seu passeio habitual, não muito distante de onde se encontrava. Lídia ouviu vozes alteradas, que percebeu serem de Alfredo e Vânia. Discutiam calorasamente assuntos inerentes ao casamento, à vida em comum, mas parecia não entrarem em acordo. Lídia esgueirou-se atrás de um arbusto, não queria ser vista e sem querer ouvia tudo o que diziam. Ficou chocada com as palavras rudes que Vânia dirigia a seu noivo, o desprezava por ser um homem sem maiores ambições e desejar viver no campo, que ela tanto detestava. De repente, num ato de raiva arrancou a aliança do dedo e arremessou no matagal, bateu o pé e saiu, despejando toda sua ira e impropérios contra o pobre rapaz. Subiu em seu carro e partiu velozmente, levantando nuvens de poeira pela estrada afora.

Alfredo, cabisbaixo dirigiu-se PARA CASA E LÍDIA PASSADA alguns minutos saiu apressada. Estava aterrorizada.

À noite na casa grande comentou-se o acontecido e o rapaz declarou aos familiares que tinha desfeito o noivado, era sua última decisão. Nada mais o prendia a Vânia e não pretendia vê-la tão cedo. Como fora cego e não perceber quão fútil e volúvel era aquela criatura.


O inverno passara e a primavera se fazia sentir pelo verde dos campos e o florir dos crisântemos, hortências e do roseiral. O amanhecer era fresco e radioso, os pássaros em revoada cortavam o azul do céu, homenageando a nova estação.

Autoria: DESCONHECIDA

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